Cinco dias em viagem. Dois mil quilómetros a mais no contador do VW. Um mergulho na Alemanha profunda, na realidade dura da emigração portuguesa por estas bandas. Hamburgo, cidade imponente, multicultural, jovem e louca. Mais cinco dias em que durante o dia vendi sorrisos e mensagens de optimismo e entusiasmo, em que pedi comprometimentos e empenho, em que pouco a pouco fui semeando vontades e atitudes. Cinco noites em que acabei por desabar sob o peso imenso de uma ausência que não sei sequer se quero suportar. Em que dei voltas e voltas numa cama vazia e emprestada de hotel, em guerra mais que declarada com pensamentos e angústias, sentimentos e realidades, verdades várias que se cruzam e atropelam. Momentos de tensão e nervosismo em mim que desconhecia, uma vontade de gritar até perder a voz e o fôlego, um nó constante na garganta sempre seca. Um medo incrivelmente grande e indescritívelmente absurdo de tudo e de nada, principalmente de tudo, de tudo o que não quero perder, um tudo que quero viver e sentir, e que não é possivel à distância. Duas faces, a motivada profissional até às 22h, a desesperadamente à procura de não perder o tudo, daí até novamente ser dia. Insónia permanente, turbilhão permanente, concentração ausente, um desvario emocional sem precedentes. E sei que este meu estado de anciedade não é saudável e não resolve. E sei que só causa em quem mais amo um mal estar decerto em tudo semelhante ao meu, senão maior por aumentado por outras ausências. E mais me dói não conseguir parar esse seu sofrimento. Mas não aprendi a lidar com este desespero que desespera. Agarro-me a tudo para estar bem, mas por tudo e nada desabo e sou invadido por uma tristeza que me faz mal e que odeio por saber que não é só a mim que atormenta.
Feijão frade, atum, ovos, cebola, azeite, vinagre e sal. Uma correria na cozinha. Um momento em que tudo parecia estar dentro da normal felicidade do tudo. Desabo. Fiz a mais, deito ao lixo junto com o feijão cozido e a cebola crua, mais cinco dias em que não sou quem quero ser, em que não vivo. Janto sozinho, com o consolo de saber que do outro lado do monitor alguém come triste a sua sopa lunar.
Quero mostrar-me alegre e confiante para ouvir o seu sorriso e a sua confiança de volta. Mas desabo. Pareço um daqueles chaços velhos que nos dão esperanças de querer arrancar para fazer viagem, mas que depois de uns safanões e poucos metros, voltam a pedir que os empurrem.
Preciso muito de ti, amor. Mas mais preciso de te conseguir fazer sentir bem, e sei que não o estou a fazer. E infelizmente, outra vez, desabo.
Na Sexta-Feira Santa evoca-se a Paixão e Morte de Cristo. O Seu Julgamento e Calvário. Quero muito celebrar também a minha paixão por ti, pôr um fim nesse teu calvário e ressuscitar contigo neste fim de semana. Que Cristo não se oponha e eu não desabe. Quero ver uma Lua cheia. Linda e com luz intensa.
Podem não matar, mas como doem fundo estas saudades.
Boa Páscoa para todos, e fiquem bem, à luz da Lua.
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