quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Muitas letras fazem uma Vida

Sou alentejano. Foi rodeado pela paisagem do Alentejo e a sentir o seu tempo muito próprio que cresci, que descobri os sentidos e eduquei os sentimentos. Foi no Alentejo que te olhei pela primeira vez, Lua!
E foi ao Alentejo que hoje fui buscar a minha trova.
Se há coisa que o Alentejo, a sua paisagem, a sua história e as suas gentes nos podem ensinar, é a renascer. A ter energia, força e vontade. Que depois de um sonho, vem sempre uma realização maior. Como depois do trigo, vem o restolho, e o restolho é toda uma vida. Com entrega alucinada e um coração cheio.


Geme o restolho, triste e solitário
a embalar a noite escura e fria
e a perder-se no olhar da ventania
que canta ao tom do velho campanário



Geme o restolho, preso de saudade
esquecido, enlouquecido, dominado
escondido entre as sombras do montado
sem forças e sem cor e sem vontade



Geme o restolho, a transpirar de chuva
nos campos que a ceifeira mutilou
dormindo em velhos sonhos que sonhou
na alma a mágoa enorme, intensa, aguda



Mas é preciso morrer e nascer de novo
semear no pó e voltar a colher
há que ser trigo, depois ser restolho

há que penar para aprender a viver


e a vida não é existir sem mais nada
a vida não é dia sim, dia não
é feita em cada entrega alucinada
prá receber daquilo que aumenta o coração



Geme o restolho, a transpirar de chuva
nos campos que a ceifeira mutilou
dormindo em velhos sonhos que sonhou
na alma a mágoa enorme, intensa, aguda



Mas é preciso morrer e nascer de novo
semear no pó e voltar a colher
há que ser trigo, depois ser restolho
há que penar para aprender a viver



e a vida não é existir sem mais nada
a vida não é dia sim, dia não
é feita em cada entrega alucinada
prá receber daquilo que aumenta o coração.



(Mafalda Veiga)


Lua, estou parado. À tua espera. Para renascer contigo. E sempre à tua luz, à luz da Lua.

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Trova à Lua