Faz já mais de um ano que nada escrevo nesta "Luz da Lua".
Não passa um dia que cá não venha. Não passa quase uma só hora.
Como se espera-se que algo por cá aparecesse escrito, sem eu o escrever.
Como se aguarda-se que a própria "Luz" toma-se Vida e ela própria se conta-se, se escrevesse.
E tanto que teria para contar. Neste ano, tanto que poderia ter escrito.
Ela se o pudesse. Eu se o tivesse conseguido.
Hoje ousei mais que entrar e olhar a "Luz da Lua".
Hoje estou a conseguir mais que apenas contemplar. Como nunca deixei de fazer.
Hoje entro, contemplo e ofereço à Lua uma Ode!
Sim, uma Ode. Lembram-se? Princípio e único fim desta minha "Luz": Cantar a e à Lua!
E faz tanto bem, conseguir por fim voltar ao princípio. Voltado à Lua, voltando ao Poeta.
"Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos.)
Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.
Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassosegos grandes.
Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,
Nem invejas que dão movimento demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
E sempre iria ter ao mar.
Amemo-nos tranquilamente, pensando que podiamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.
Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
No colo, e que o seu perfume suavize o momento —
Este momento em que sossegadamente não cremos em nada,
Pagãos inocentes da decadência.
Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-ás de mim depois
Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos
Nem fomos mais do que crianças.
E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio,
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim — à beira-rio,
Pagã triste e com flores no regaço. "
Vem Sentar-te Comigo, Lídia, à Beira do Rio
Ricardo Reis, in "Odes"
Confesso saudades. Que falta sentia de poder despedir-me assim: Fiquem bem, à Luz da Lua.
"Hoje (a 7 de Maio de 2007)
ResponderEliminarSenti-te a falta,
quando virava a página do livro recém começado.
Não tinha o teu corpo ao meu lado para apoiar-me, enquanto a brisa não deixava que o sol me acalentasse, e as tuas mãos apartavam o cabelo dos meus olhos, destapando-me a cara.
Senti-te a falta,
quando passeava a beira rio buscando algo no infinito.
Não tinha os teus dedos enrolados nos meus, enquanto os meus passos me levavam a nenhures, e a tua voz era muda, apenas perceptível pelo movimento dos teus lábios, aniquilada pelo som da música nos meus ouvidos.
Senti-te a falta,
Quando fazia o pedido à simpática senhora da esplanada: um café, uma água, um.
Não estavas para esvaziar metade do açúcar na minha chávena, enquanto misturava a água natural e a fria, e o teu sorriso iluminava a minha tarde de primavera, refrescada por um doce gelado a dois.
Senti-te a falta,
porque hoje, gostava que tivesses existido."
E quando ainda (eu pensava que) não estavas, já me fazias falta; à beira-rio, de mãos entrelaçadas, carícias suaves e com um olhar mais que contemplativo da nossa vida.
Beso, mi Amor.