Passamos metade do tempo a recordar o passado, e é importante que o façamos.
Outra metade preocupados com o futuro, legitimamente preocupados.
Mas acabamos por deixar o presente em branco, pois não temos tempo para ele.
E assim, só por sorte não ficaremos com um vazio para recordar e sem tempo de futuro.
Mas do que realmente sinto falta é de um sorriso e de sorrir. De uma gargalhada e de gargalhar. De um olhar cúmplice, nem que seja por um momento. Que o meu presente passasse por aí.
Mas voltando à Terra neste ano da Graça de 2012, vamos lá ao passado arranjar forças para viver o presente como ele se apresenta e sonhar com um futuro, seja ele qual for.
E entretanto que fiquemos todos bem por aqui, à luz da Lua.
quinta-feira, 11 de outubro de 2012
quarta-feira, 10 de outubro de 2012
Três tópicos apenas
I.
Não. Definitivamente não. Ninguém tem culpa, ninguém que não eu é responsável por eu ser aquilo que sou, da forma que sou.
Se tive ou tenho influências? Claro que sim. Qualquer construção, mesmo a de personalidade é influenciada por um largo conjunto de factores e de pessoas. E isso é o normal e o desejável. A diversidade de experiências e influências tenho-as como úteis, necessárias e desejáveis. Mas a responsabilidade é pessoal e intransmissível. Minha. Que escolho, arrisco ou me acomodo, persisto ou desisto, cresço ou desapareço. Em consciência ou por impulso, com ou sem arrependimento posterior. Imputar responsabilidades dos meus erros ou sucessos a influências, boas ou más, a presenças ou ausências de terceiros, a bons ou maus exemplos ou experiências, é para mim, a suprema menorização do eu e da capacidade de assumir a construção da própria personalidade, da própria vida. Sim, sou eu e só eu o responsável. A todos os que me acompanharam e acompanham, me influenciam (independentemente da bondade dessas influências), só posso dizer obrigado por me ajudarem a ser quem sou.
II.
Sempre fomos aquilo, que com o tempo fomos convencionando informalmente de designar, de funcionais. Mais de fazer do que de dizer. Mais de estar lá do que dizer de que estaremos sempre lá. Mais de acarinhar e amparar do que de trocar mimos verbais. Mais de estar sempre atentos às necessidades e tentar antecipá-las do que de dizer “gosto de ti” ou “és importante”. Mais de sofrer por antecipação a qualquer percalço do que a cobrir de beijos. Sempre fomos pouco tácteis, de poucas palavras “mimosas” mas sempre fomos e somos de acções de Amor. E sim, com poucas palavras mas de uma sensibilidade e ternura extremas, que nunca me fizeram sentir falta de exprimir ou sentir expresso em palavras que já qualifiquei de “mimosas”. Amo-vos intensamente! (ups, resvalei para a “mimosidade”, não há mal)
III.
Tudo o que vivi até hoje, do berço no quarto dos meus pais até à cama com vista para a árvore da Charlottenstrasse, tem sido construção minha. Decisões minhas sobre opções de momento, umas ponderadas outras irreflectidas. Vitórias e derrotas minhas, com festa e dores que compartilhei e compartilho com quem as sente também como suas. Caminho percorrido ora em solidão, ora nas melhores companhias. De tempos a tempos questiono o meu caminhar, questiono a minha solidão, questiono as minhas companhias. E persisto ou arrepio caminho. E recomeço. Sem ponto previsível de chegada mas sempre com a linha do horizonte à vista.
Não me construí ainda o suficiente para tentar sequer ser juiz de quem comigo se cruza no caminho, muito menos de quem me ensinou a andar ou de quem comigo fez ou faz caminho. Mas já me construí o bastante para não aceitar como verdades absolutas as opiniões que de mim têm, sejam bondosas ou maldosas. Pois, se me pedirem que me defina, direi que não sou bom nem mau, teimo sim em ser sempre diferente. Seja isso o que for.
E como sempre, quero-vos bem, à luz da Lua.
segunda-feira, 8 de outubro de 2012
1994
Regresso a 1994. Ano em que “Schindler’s list” ganha o Óscar para melhor filme, Bruce Springsteen faz a banda sonora premiada por “Streets of Philadelphia”, o Brasil ganha nos EUA o Campeonato do Mundo de futebol nas grandes penalidades à Itália, e comemora com a inesquecível frase “ Senna, aceleramos juntos, o Tetra é nosso!”. Sim, foi também o ano em que morreu Ayrton Senna.
1994, ano em que tendo só dúvidas e perguntas sem resposta, arrisco deixar o que conhecia e amava rumo ao incerto e desconhecido. Deixei o meu Alentejo, os que amava e tudo o que me era querido, rumo a Lisboa e a um projecto de vida que não tinha, estava mesmo muito longe de o ter, ou sequer saber o que isso era.
1994, ano das primeiras farras, dos primeiros amigos de ocasião, dos amores de uma noite, dos excessos sem controle, da descoberta das nódoas negras sentimentais e de tudo o mais que descobri em Jorge Palma.
1994, das directas de marranço, das orais obrigatórias, das pautas de frequência, das horas intermináveis de autocarro entre Santo António dos Cavaleiros e a Rua da Junqueira.
1994, ano em que Lisboa foi Capital Europeia da Cultura, em que vivi a primeira paixão arrebatadora, ao som de Pedro Abrunhosa e do irrepetível concerto de sinos das igrejas da capital.
1994, ano da revolta na ponte 25 de Abril, das aulas de Direito a que não ia e das de Engenharia no IST a que não faltava, dos arraiais e das desilusões. Da Sagres com Néstum.
1994, do Reboredo Seara, do Cabral de Moncada e da Teresa Morais. De praxes e escapadelas, de euforias e saudades.
1994, das noites e manhãs de sexo e da velha lição de que o amor começa e acaba por causa do dito ou da falta dele.
1994, ano em que no meio de tanto turbilhão emotivo e trambolhões literais, entrei na Valentim de Carvalho do Rossio, lugar onde passava horas a fazer tempo para ter vontade de fazer coisa alguma, e gastei o dinheiro de uma semana num livro que jamais esquecerei.
1994, li e comecei a aprender que “O Amor é fodido”. E nunca mais me libertei da sensação que tive em 1994, e cito de cor: “ O mundo inteiro é muitas vezes muito pouco, para quem não está à procura de nada”.
E assim foi 1994. O meu 1994. E assim sou eu.
Nota: No passado dia 5 de Outubro, o meu 1994 alcançou a maioridade. 18 anos depois aqui fica a homenagem a tudo e a todos que fizeram de 1994 o principio daquilo, que no fim de contas, sou em 2012.
E fiquem bem por aí, à luz da Lua.