quarta-feira, 2 de abril de 2008
Lua dá-me a mão e não tenhas medo!
Uma das fobias mais propagadas na Humanidade, talvez mesmo a mais sentida e vezes sentida, é a fobia da morte. São inumeros os relatos de gente que sonha com ela, que a vê a chegar, que se sente morto, que se vê a morrer, que se vê a voltar à vida, que se vê a olhar para si e para as suas coisas após o último suspiro. As explicações para tais factos são também abundantes na literatura técnica de diversas àreas científicas (e outras pouco científicas), como de psicologia, psiquiatria, medianismo e espiritismo. Mas, com mais ou menos ciência, mais ou menos especulação, maior ou menor complexidade argumentativa, as construções explicativas vão invariavelmente chegar ao mesmo ponto - o medo. O medo que as pessoas sentem da morte levam-nas a dedicar-lhe grande parte dos seus pensamentos. Curioso como o medo da morte leva a que se perca com ela grande parte do tempo e energias em vida.
Mas sinceramente, não vejo que dai venha quer mal ao mundo, quer grande mal para quem padece de tal fobia. Porque acredito, embora sem qualquer base científica nem aspiração a criar qualquer doutrina, que por pensar muito no medo que se tem na morte e gastar muito tempo a ter medo dela, a dita não atacará mais depressa nem de forma mais ou menos drástica. Já em relação a outras fobias, o tempo e as energias gastas a pensar no medo que temos, pode ser muito penalizador para a vida, para a qualidade de vida que temos, e para o vencer ou ser derrotados por esses medos. E fobias há muitas, tal como gente com fobias. Há gente com fobias a animais, a espaços grandes, espaços pequenos, a pontos elevados, aos varios elementos da Natureza, a várias invenções humanas. Um verdadeiro manancial de fobias, para todos os gostos e desgostos. Umas mais declaradas, outras mais controladas, umas provocam risadas nos outros que as não têm e o vice versa também acontece. Mas todas elas fazem parte da categoria de fobias das quais não advêm grandes males, a não ser uns sustos e suores valentes. Mas depois há as outras. As tais que todo o tempo e energia que deitamos fora a pensar no medo que nos causa, é tempo e energia que dedicamos ao aprofundar das fobias. A fobia à sexualidade plena, a fobia ao compromisso, a fobia à solidão, a fobia à felicidade própria, a fobia à felicidade alheia. Alguns exemplos de fobias conhecidas, que fazem as pessoas afundarem-se no passar do tempo e das energias gastas na vivência dos seus medos. Que fazem vidas não serem vividas, que transformam vidas em meras sucessões de anos após anos, de fugas e esconderijos para os medos que nunca se entende de onde provêem nem com que intuito. Medos que geram inconsciências, incapacidade de busca das causas, incompreensão da realidade e dos efeitos infligidos a quem está ao lado. Obstinadamente, acaba-se por dar mais importância às tais fobias, do que ao que se alcançaria caso elas desaparecessem. E assim, nunca desaparecem. Aumentam e infectam terceiros. Os terceiros que são mais importantes, que nos amam e acompanham, que tantas e tantas vezes nos alertam e resistem às fugas e perdas de tempo estéreis. Mas que vencidos, também são infectados por fobias da mesma estirpe, da estirpe que mata vontades e sentimentos, sonhos e ambições. O medo transformado em fobia desta estirpe, é assim um dos piores vírus que se conhecem. Se é capaz de matar elos fortes entre pessoas, eliminar pontos de contacto, destruir relacionamentos, a limite tem a capacidade de impedir a felicidade e a reprodução da espécie, podendo causar a extinção.
Ontem acordei a meio da noite. Olhei para mim deitado na cama. Vi que estava a dormir enrolado, agarrado à almofada, sózinho. Percorri a casa vazia. Olhei todas as divisões, uma a uma. Não as reconheci. Não encontrei ninguém. Olhei pela janela. A rua estava vazia e sem trânsito. Não a reconheci. Abri portas e armários. Nada encontrei que me fosse familiar. Voltei ao quarto e a olhar para mim a dormir. Estava enrolado e a chorar. Deitei-me ao meu lado e abracei-me. E adormeci a chorar.
De manhã reconheci o medo. Quero lutar contra ele não fugindo dele. Pesquiso causas dentro de mim. Não me pode vencer. Não quero uma vida de sucessivos anos sem sentido e sem sentimento. Não por ter em mim o vírus do medo de estar como estou.
Vamos lutar contra as nossas fobias? Eu ajudo a vencer as tuas. Tu ajudas a vencer as minhas. Temos que ser mais fortes que qualquer medo de infecção. Por nós. Pela Humanidade.
A Vida é curta demais para ser vivida com medos. Arrisquem vencê-los! E fiquem bem, à luz da Lua.
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