quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

A Lua, o nosso amigo e os "Sás Carneiros"!

"Como eu desejo a que ali vai na rua,
tão ágil, tão agreste, tão de amor...
Como eu quisera emaranhá-la nua,
bebê-la em espasmos de harmonia e cor!...


Desejo errado... Se eu a tivera um dia,
toda sem véus, a carne estilizada
sob o meu corpo arfando transbordada,
nem mesmo assim – ó ânsia! – eu a teria...


Eu vibraria só agonizante
sobre o seu corpo de êxtases dourados,
se fosse aqueles seios transtornados,
se fosse aquele sexo aglutinante...


De embate ao meu amor todo me ruo,
e vejo-me em destroço até vencendo:
é que eu teria só, sentindo e sendo
aquilo que estrebucho e não possuo."


Amigo, este foi o desafio que sabias que eu abraçava. Esta foi a superação que nos desejaste. Quero que saibas que começamos a negar positivamente todo o modernismo egocêntrico de Mário Sá Carneiro. Que com calma e em tempo, vamos descobrindo, que a ânsia deixa de ser agonizante quando nasce espasmática num abraço, sentido e vibrante, alimentado pela vontade apaixonada de dois seres aglutinantes.

Que saibas que este poema oferecido, tem sido um estímulo e uma fantasia perseguida, até hoje, em segredo. Obrigado.

Que tu e a minha Lua saibam, o quanto a vossa amizade me ensinou, que a Amizade para ser verdadeira e sentida tem mesmo que ser "amiga", libertadora e incondicional.
Ah! E ficam tão bem. Lamechas os dois. Como eu gosto!
E espero que aprendas muito em breve, o caminho de Dusseldorf. Onde terás sempre dois amigos, daqueles!!


Há vinte e oito anos morreu outro Sá Carneiro. Não eram familiares, mas tinham ambos uma característica comum: estavam à frente do seu tempo. Um matou-se porque não o compreendiam. O outro, mataram-no porque o sabiam diferente.
Não sei se tivesse vivido, o teria conseguido. Mas sei que vinte e oito anos depois da sua morte, o seu desejo continua por realizar: "...um Pais onde os idosos tenham presente; onde os jovens tenham futuro!"
Só isso, o sonho não cumprido, interrompido por vontade de outros, me bastava para continuar a lembrar o seu nome. Mas infelizmente, cada vez mais vejo motivos para ter saudades dele. E muito menos românticos.


Lua, o poema revelado era o que estava na carteira "de Basileia". O resto, melhor que ninguém, entendes à primeira leitura. Sem racional lógico, que esse não é para aqui chamado. O outro Sá Carneiro é também um amigo meu, nosso.
E fiquem bem à luz da Lua. Eu prometo, vou dormir.