sexta-feira, 16 de novembro de 2007

A Declaração de uma vida - a minha

Hoje a Lua está doente. Hoje o dia nasceu mais triste.
Para tentar contrariar o quase desespero que sinto em tomar consciência da minha impotência face à sua debilidade, e enquanto lhe velo o sono e a canja vai cozendo, venho trazer à luz da Lua o primeiro dos escritos - na realidade houve uns quantos antes deste, mas os que se entenderam publicar já o foram na manta da Lua - após quase dez anos de silêncio e ausência de mim. Tenho-o como Constituição fundacional de uma nova vida, da minha vida lunar.

Lisboa, 24 de Junho de 2007. Às 22h24m

"É a primeira vez desde há muito tempo, ouso dizer que desde há muitos anos, que escrevo sem ser para lamentar a existência ou deitar lágrimas sobre o passado, os seus erros e mágoas.Hoje escrevo com motivações profundamente diferentes. Escrevo para declarar a chegada de novos tempos. Para assumir que me permiti olhar a Vida e as suas coisas, de novo, com olhos apaixonados. Com outra motivação, com outra garra.Sei que no passado enterrei essa forma de vida, e que na práctica deixei de acreditar que Felicidade existisse. Sei que me refugiei em imagens e figuras criadas para me protegerem da vilania do Amor. Sei que abracei atitudes e formas de vida que me garantiam o imediatismo das sensações, sem o terror das emoções.Sim, não pensava voltar a abrir essa porta, tudo fiz para que tal não fosse sequer hipótese. E acreditem, nem nos meus pensamentos mais íntimos, considerava que algum dia pensaria de forma distinta e que me desprotegeria a vontades e entendimentos que não os meus.Mas aconteceu. Como? Não sei. Simplesmente aconteceu. De um momento para o outro dei por mim a olhar o Mundo de forma diferente. Dei por mim a criticar a minha própria forma de vida. Comecei a gostar de coisas que sinceramente já nem sabia que existiam. E foi assim mesmo, de um momento para o outro. Não foi um processo, foi como que mágico, imediato.Sempre tive medo e por isso evitei situações que não compreenda e controle. Sempre procurei ser eu a conduzir os acontecimentos e nunca ser apanhado desprevenido pelos devaneios da vida. Curioso como mesmo até os mais magoados, prevenidos e racionais são tomados pela mágica que emana em determinados momentos, de determinadas pessoas.Mas é verdade. Aconteceu. Num momento mágico, enterrei toda a mágoa que guardava do Mundo, esqueci todo o medo que transportava, abandonei os velhos costumes e abri o coração e a vida a novas emoções, sentimentos e partilhas.Sinto-me desprotegido, livre de amarras e convenções. Mas nem por isso me sinto enfraquecido. Estou a aprender que nem tudo tem que ser racionalizado, nem tudo faz sentido à luz da razão pura. Há coisas que têm outra medida que não a da inteligência dos homens. Nunca pensei dizer isso, mas não consigo mentir, nem quero mentir. Sinto-me bem, inseguro como todos os homens apaixonados, mas muito bem. Encontro forças em cada sorriso, cada toque, cada beijo. Parece patético, lamechas. Seria isso que diria se alguém me contasse história idêntica. Mas hoje garanto, não tem nada de patético. É sentimento em estado puro. E é tão bom quando ainda conseguimos encontrar e viver algo em estado puro, sem termos que adulterar ou modificar nada. Corro riscos, claro que corro riscos. Alás corro agora todos os riscos que evitei e repudiei nos últimos 10 anos. Mas existirá Amor sem risco? Não será o medo de perder esse amor que faz com que os amantes se entreguem e compreendam? Aquilo que sei é que não vou abdicar deste sentimento que me dominou e que tanto prezo. Vou fazer com que cresça. Quero ser feliz e fazer muito feliz esse meu Amor.Escrever desta forma descomplexada, sem rodeios nem retóricas, é para uma pessoa como eu, uma vitória. E uma declaração de Vida. Uma declaração de que o Amor existe."

Foi-lhe entregue uns dias depois da data de nascimento, e a resposta que obtive ainda hoje a vivo e respiro, e que seja eterno.

Obrigado pela paciência, fiquem bem à luz da Lua.

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