sábado, 22 de maio de 2010

Humildemente, hoje mais que apenas entro.

Faz já mais de um ano que nada escrevo nesta "Luz da Lua".
Não passa um dia que cá não venha. Não passa quase uma só hora.
Como se espera-se que algo por cá aparecesse escrito, sem eu o escrever.
Como se aguarda-se que a própria "Luz" toma-se Vida e ela própria se conta-se, se escrevesse.
E tanto que teria para contar. Neste ano, tanto que poderia ter escrito.
Ela se o pudesse. Eu se o tivesse conseguido.
Hoje ousei mais que entrar e olhar a "Luz da Lua".
Hoje estou a conseguir mais que apenas contemplar. Como nunca deixei de fazer.
Hoje entro, contemplo e ofereço à Lua uma Ode!
Sim, uma Ode. Lembram-se? Princípio e único fim desta minha "Luz": Cantar a e à Lua!
E faz tanto bem, conseguir por fim voltar ao princípio. Voltado à Lua, voltando ao Poeta.

"Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos.)

Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.

Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassosegos grandes.

Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,
Nem invejas que dão movimento demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
E sempre iria ter ao mar.

Amemo-nos tranquilamente, pensando que podiamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.

Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
No colo, e que o seu perfume suavize o momento —
Este momento em que sossegadamente não cremos em nada,
Pagãos inocentes da decadência.

Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-ás de mim depois
Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos
Nem fomos mais do que crianças.

E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio,
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim — à beira-rio,
Pagã triste e com flores no regaço. "

Vem Sentar-te Comigo, Lídia, à Beira do Rio
Ricardo Reis, in "Odes"

Confesso saudades. Que falta sentia de poder despedir-me assim: Fiquem bem, à Luz da Lua.

1 comentário:

Uma vida qualquer disse...

"Hoje (a 7 de Maio de 2007)

Senti-te a falta,
quando virava a página do livro recém começado.
Não tinha o teu corpo ao meu lado para apoiar-me, enquanto a brisa não deixava que o sol me acalentasse, e as tuas mãos apartavam o cabelo dos meus olhos, destapando-me a cara.
Senti-te a falta,
quando passeava a beira rio buscando algo no infinito.
Não tinha os teus dedos enrolados nos meus, enquanto os meus passos me levavam a nenhures, e a tua voz era muda, apenas perceptível pelo movimento dos teus lábios, aniquilada pelo som da música nos meus ouvidos.
Senti-te a falta,
Quando fazia o pedido à simpática senhora da esplanada: um café, uma água, um.
Não estavas para esvaziar metade do açúcar na minha chávena, enquanto misturava a água natural e a fria, e o teu sorriso iluminava a minha tarde de primavera, refrescada por um doce gelado a dois.
Senti-te a falta,
porque hoje, gostava que tivesses existido."

E quando ainda (eu pensava que) não estavas, já me fazias falta; à beira-rio, de mãos entrelaçadas, carícias suaves e com um olhar mais que contemplativo da nossa vida.

Beso, mi Amor.