segunda-feira, 30 de junho de 2008

Uma noite com Bertold

"Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual. Suplicamos expressamente: não aceiteis o que é de hábito como coisa natural, pois em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural nada deve parecer impossível de mudar."
(Bertold Brecht)

Curioso como em noite de vitória espanhola, é um alemão que me acompanha nos pensamentos.
Brecht foi um dos muitos alemães que gritou, alertou e depois lutou (como pode, com as suas armas) contra o regime nazi. Foi atento, generoso, empenhado, sofredor, camarada, criativo, combativo. Mas falhou. O regime venceu e o Fuhrer reinou até ao suicídio. Brecht falhou, mas vive até hoje. E o seu bom conselho acompanha-me nesta noite. Noite que, também ela, começou por ser de vitória. Também eu vivo, como a Alemanha e a Europa dos anos 30, tempos de confusão e desordem, no viver, no pensar. Arbitrariedade não tenho é no sentir, no querer. Por isso, como o velho Bertold, lanço gritos apaixonados de alerta. E confio que nada é impossivel de mudar. E sonho que a minha luta não acabará como a dele, apenas como exemplo inspirador para os que vierem a seguir.

Onde estás Amor? Se Deus quizer, bem. À luz da Lua.

domingo, 29 de junho de 2008

Parabéns Espanha! Te quiero!

Há uma hora que Espanha é Campeã da Europa de futebol. E merecidíssima.
Há uma hora que me senti também vencedor desse título.
Há uma hora que tento partilhar o momento com quem tudo partilho. E neste momento sei que está feliz! Queria ter o meu espacito nesse seu momento de Felicidade. Queria ouvir a sua voz sorridente e feliz.
Há uma hora que me tento convencer que serei o primeiro a partilhar esse momento.
Há uma hora que o tento. E não vou desistir.

Estrela da tarde

Era a tarde mais longa de todas as tardes que me acontecia
Eu esperava por ti, tu não vinhas, tardavas e eu entardecia
Era tarde, tão tarde, que a boca, tardando-lhe o beijo, mordia
Quando à boca da noite surgiste na tarde tal rosa tardia

Quando nós nos olhámos tardámos no beijo que a boca pedia
E na tarde ficámos unidos ardendo na luz que morria
Em nós dois nessa tarde em que tanto tardaste o sol amanhecia
Era tarde de mais para haver outra noite, para haver outro dia

Meu amor, meu amor
Minha estrela da tarde
Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Se tu és a alegria ou se és a tristeza
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza

Foi a noite mais bela de todas as noites que me adormeceram
Dos nocturnos silêncios que à noite de aromas e beijos se encheram
Foi a noite em que os nossos dois corpos cansados não adormeceram
E da estrada mais linda da noite uma festa de fogo fizeram

Foram noites e noites que numa só noite nos aconteceram
Era o dia da noite de todas as noites que nos precederam
Era a noite mais clara daqueles que à noite amando se deram
E entre os braços da noite de tanto se amarem, vivendo morreram

Eu não sei, meu amor, se o que digo é ternura, se é riso, se é pranto
É por ti que adormeço e acordo e acordado recordo no canto
Essa tarde em que tarde surgiste dum triste e profundo recanto
Essa noite em que cedo nasceste despida de mágoa e de espanto

Meu amor, nunca é tarde nem cedo para quem se quer tanto!

O tal poema do Ary, com uma composição do Fernando Tordo, feita sob exigência de poder pôr "muitas palavras".
Também penso em muitas palavras, mas só te queria dizer: Parabéns! Viva España! Te quiero mucho!

Felicidades aos Campeões. A quem conseguiu. Para todos os outros, tenhamos coragem e empenhemo-nos em ser melhores. Só vejo esse caminho. Fiquem bem, à luz da Lua.

Sinto-me muito português a gritar: España!!

Ele realmente há coisas que só quando passamos por elas, quando as sentimos na nossa pele, é que deixamos de as desdenhar ou olhar com olhos de desconfiança e pouca fé.
Quando a solidão ataca em terras desconhecidas, quando estamos privados da companhia dos que mais queremos e não temos ninguém para acompanhar numa simples cerveja; quando nada do que olhamos à volta nos diz nada, nada se parece com o que intrinsecamente é nosso, então talvez percebamos o que durante anos nos foi indiferente. Pequenas coisas que se sentem de forma diferente e nos fazem sentir mais perto, para não dizer, vivos.
Enquanto aguardo impaciente a vitória da "nossa" Espanha na final de hoje, bebo uma cerveja alemã e brindo ao som do "Vinho do Porto" do Paião, que hoje para mim, é um Hino.

Primeiro a serra semeada terra a terra
Nas vertentes da promessa
Nas vertentes da promessa
Depois o verde que se ganha ou que se perde
Quando a chuva cai depressa
Quando a chuva cai depressa

E nasce o fruto quantas vezes diminuto
Como as uvas da alegria
Como as uvas da alegria
E na vindima vão as cestas até cima
Com o pão de cada dia
Com o pão de cada dia

Suor do rosto pra pisar e ver o mosto
Nos lagares do bom caminho
Nos lagares do bom caminho
Assim cuidado faz-se o sonho e fermentado
Generoso como o vinho
Generoso como o vinho

E pelo rio vai dourado o nosso brio
Nos rabelos duma vida
Nos rabelos duma vida
E para o mundo vão garrafas cá do fundo
De uma gente envaidecida
De uma gente envaidecida

Vinho do Porto
Vinho de Portugal
E vai à nossa
À nossa beira mar
À beira Porto
À vinho Porto mar
Há-de haver Porto
Para o nosso mar

Vinho do Porto
Vinho de Portugal
E vai à nossa
À nossa beira mar
À beira Porto
À vinho Porto mar
Há-de haver Porto
Para o desconforto
Para o que anda torto
Neste navegar

Por isso há festa não há gente como esta
Quando a vida nos empresta uns foguetes de ilusão
Vem a fanfarra e os míudos, a algazarra
Vai-se o povo que se agarra pra passar a procissão
E são atletas, corredores de bicicletas
E palavras indiscretas na boca de algum rapaz
E as barracas mais os cortes nas casacas
Os conjuntos, as ressacas e outro brinde que se faz

Vinho do Porto vou servi-lo neste cálice
Alicerce da amizade em Portugal
É o conforto de um amor tomado aos tragos
Que trazemos por vontade em Portugal

Se nós quisermos entornar a pequenez
Se nós soubermos ser amigos desta vez
Não há champanhe que nos ganhe
Nem ninguém que nos apanhe
Porque o vinho é português

A "bold" assinalo a parte do Hino que ouço em "repeat". A parte que me trás à memória muito do que hoje, à distância, sinto como um patrímonio único da portugalidade.
A todos ofereço um brinde!
E que Viva España!

Na Alemanha a torcer por Espanha, assim estou eu. E sempre, à luz da Lua.

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Não me esqueço que...

Pese embora ser Sexta-Feira, esta hoje, não é das piores.
Porque é dia importante, e não só para mim.
E é para mim importante e não uma simples e horrivel Sexta-Feira, como tantas outras vulgares;
porque rigorosamente, não é só para mim importante.
Marca não um fim, mas um recomeço.
Marca uma alvorada de uma esperança renovada.
Simboliza não um fim de uma outra semana, antes o ínicio de uma nova consciência;
partilhada.
Marca o sonho de crescer, de fazer andar em frente. O fim do pesadelo da espera.
E como em tudo que no momento parece triste e depois se descobre não ser;
Amanhã já não é Sexta-Feira, mas sim Sabado de Aleluias!


"Há homens que lutam um dia, e são bons;
Há outros que lutam um ano, e são melhores;
Há aqueles que lutam muitos anos, e são muito bons;
Porém há os que lutam toda a vida
Estes são os imprescindíveis"

(Bertold Brecht)


Como tu o és para mim. Continua a lutar sempre, Amor. Estarei contigo nas tuas lutas. Hoje venceste uma importante. E eu vou comemorar esta Sexta-Feira, com o teu sorriso no olhar.

Fim de semana

Ainda recordo a emoção que era sempre que chegava mais uma Sexta-Feira. O alívio, a satisfação, a energia que tinha. Contudo não sabia o que queria, muito menos tinha alguma coisa.
Hoje tenho e sei o que quero. E aterroriza-me a chegada do fim de semana. Sinto-me ainda mais no vazio, ainda mais deslocado e sinto o tempo ainda mais parado.
Como recordo ter escrito "detesto a Segunda-Feira". Hoje esse dia é para mim, o mal menor. O que me deixa sem ar são as Sextas, os Sabados e Domingos em que me enterro em intermináveis sessões de auto-flagelação. E não sei que fazer. Vou inventando, fintando o tempo, mas não me consigo fintar a mim. E hoje é Sexta-Feira. Mais uma.
O que me alenta e ainda faz sorrir, é que na próxima Sexta-Feira, tudo isto é mentira.

Bom fim de semana, e fiquem bem, à luz da Lua.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

É teu! Escreve o que falta!

No segundo post que trouxe aqui à Tua luz, confessei que "vai e volta e será, talvez, o poema da da minha vida".
Hoje, neste teu cinquagésimo sexto post, e neste momento em que tudo o que te queria dar era a minha presença, não encontro nada de mais meu, que sinta que é muito mais teu. E assim sendo, uma vez mais, mas hoje em definitivo, ofereço-to. Toma! É teu! És tu em cada verso!

No teu poema
existe um verso em branco e sem medida,
um corpo que respira, um céu aberto,
janela debruçada para a vida.
No teu poema existe a dor calada lá no fundo,
o passo da coragem em casa escura,
e aberta, uma varanda para o mundo.
Existe a noite,
o riso e a voz refeita à luz do dia,
a festa da Senhora da Agonia
e o cansaço
do corpo que adormece em cama fria.
Existe um rio,a sina de quem nasce fraco ou forte,
o risco, a raiva e a luta de quem cai
ou que resiste,
que vence ou adormece antes da morte.
No teu poema
existe o grito e o eco da metralha,
a dor que sei de cor mas não recito
e os sonhos inquietos de quem falha.
No teu poema
existe um cantochão alentejano,
a rua e o pregão de uma varina
e um barco assoprado a todo o pano.
Existe um rio
a sina de quem nasce fraco ou forte,
o risco, a raiva e a luta de quem cai
ou que resiste,
que vence ou adormece antes da morte.
No teu poema
existe a esperança acesa atrás do muro,
existe tudo o mais que ainda escapa
e um verso em branco à espera de futuro.

Lágrima seca? Agora o meu sorriso!! E vai-te a eles, que o poema tem um verso em branco!!
Eu fico aqui, sempre à luz da Lua.

terça-feira, 24 de junho de 2008

Os verbos, as opções e a Vida

v.tr. = verbo transitivo ; diz-se do verbo que pede complemento directo, complemento indirecto ou ambos.
v.int. = verbo intransitivo ; diz-se dos verbos que exprimem estado, qualidade ou acção, que não passa do sujeito, ou seja, não pede complemento directo ou indirecto.
v.refl. = verbo reflexo ; diz-se do verbo cujo complemento é um pronome da mesma pessoa do sujeito.

Assim vai a vida. Entre transitivos, intransitivos e reflexos. E vice-versa, e todos, e por vezes falta-me algum que seja isso, algo mais ou outra coisa qualquer, que não o que transita, o que não transita e ou reflecte. Como tudo na vida, a gramática também é uma questão de escolhas e adequações. De opções de sentidos, de todos os sentidos - que como bom substantivo também tem mais que um sentido, ou adequação. Enfim, escolhas gramaticais que são opções de acção ou modo, de tempo ou espaço - bem adverbiais. Sem adjectivos à mistura, serão sempre e somente opções singelas para quantificar o quanto se sente o verbo, ou direi a Vida?

Deixo-vos alguns exemplos, para que possam também fazer as vossas opções. De preferência gramatical e, porque não, de escrita pelas passagens da dita, a Vida.

Esperar

do Lat. sperare
v. tr.,
ter esperança em;
supor, ter como provável;
aguardar, dar tempo;
aguardar emboscado;
v. int.,
estar à espera;
crer, confiar;
estar na expectativa.

Desesperar

v. tr.,
fazer perder a esperança a;
causar desespero a;
irritar, enfurecer;
v. int.,
perder a esperança;
v. refl.,
alucinar-se de raiva;
encolerizar-se.

Esperançar

v. tr. e refl.,
dar esperança a;
ter esperanças;
alentar.

Desejar

v. tr.,
querer;
ambicionar;
cobiçar;
almejar;
v. int.,
ter desejos;
aspirar ao que não se tem ou àquilo que não se frui;
não deixar nada a -: satisfazer por completo, realizar com perfeição;
fazer-se -: esquivar-se, para ser muito rogado.

Amar

do Lat. amare
v. tr.,
ter amor a;
gostar muito de;
desejar;
escolher;
apreciar;
preferir;
v. int.,
estar apaixonado.

Viver

v. int.,
ter vida;
existir;
durar;
habitar, residir;
alimentar-se;
nutrir-se;
comportar-se;
ter relação com;
v. tr.,
passar (a vida);
consagrar a vida a;
v. refl.,
existir;

Ambicionar

do Lat. ambitione
v. tr.,
desejar com veemência;
cobiçar;
apetecer

Resistir

do Lat. resistere
v. int.,
opor resistência;
não ceder;
fazer face a;
defender-se;
recusar-se;
aguentar-se;
não sucumbir;
subsistir.

Realizar

de real
v. tr.,
pôr em prática;
tornar real;
executar;
conseguir;
efectuar;
ser o autor (ou o realizador) de um filme ou de uma emissão;
v. refl.,
tornar-se real;
efectuar-se;
cumprir-se;
desenvolver-se;
levar a cabo (projectos, ideias, etc. );
actualizar potencialidades próprias.

Lutar

do Lat. luctari
v. int.,
travar luta;
combater;
altercar;
esforçar-se.
v. int.,
vedar com o luto;
betumar.

Sorrir

do Lat. subridere
v. int.,
rir sem fazer ruído;
rir de leve, apenas fazendo uma pequena contracção dos músculos faciais;
apresentar aspecto agradável;
dar esperanças;
ser favorável, favorecer;
mostrar-se prometedor;
v. tr.,
significar de um modo risonho;
exprimir com agrado;

Chorar

do Lat. plorare
v. int.,
derramar lágrimas;
queixar-se, lamentar-se;
constranger-se de dor;
afligir-se, prantear-se;
v. tr.,
deplorar, prantear;
arrepender-se;
sentir a perda de.

Sentir

do Lat. sentire
v. tr.,
perceber por meio de qualquer dos sentidos;
experimentar;
lastimar;
reconhecer;
dar conta ou fé de;
notar com estranheza, desgosto ou mágoa;
ter o sentimento do belo;
apreciar;
v. int.,
receber impressões;
sofrer;
ter pena;
v. refl.,
ter o conhecimento, a consciência do seu estado ou disposição;
mostrar-se magoado, melindrado;
ressentir-se;

Sonhar

do Lat. somniare
v. int.,
ter sonhos;
dormir sonhando;
entregar-se a fantasias e devaneios;
ter ideia fixa;
v. tr.,
ver;
imaginar em sonhos;
supor;
prever.

Transitem, não transitem ou optem pelos reflexos, mas seja como fôr, que fiquem bem, à luz da Lua.

domingo, 22 de junho de 2008

Tese de doutouramento ou eu em Marte

Ontem foi um daqueles dias capazes de marcarem uma vida. E capazes de a marcarem de várias formas, em que todo o tipo de marcas são possiveis. Um daqueles dias, que aquelas pessoas, como eu, que se dizem conhecer muito bem, têm medo que aconteçam. Sei o quanto sou instável, e por isso imprevísivel, quando confrontado com situações e estados de alma que não domino, que me são cruéis, capazes das mais extemporâneas reacções, reveladoras dos meus medos e inseguranças. Aqueles dias em que fechados sobre nós mesmos e nos nossos males e devaneios somos capazes de arruinar tudo o que nos é mais querido, de nos fazermos mal e a quem nos ama. O dia de ontem começou comigo perdido, completamente destroçado por um inexplicável entrelaçado de sentimentos e emoções confusas e disformes, que me faziam suar quente e frio e a custo me deixavam respirar. Via tudo a côr preta, incapaz de reagir à dor que sentia e me fazia sentir no mais pequeno, abandonado e desprezível ser. Que mal me podia ter feito! Que marca nos poderia ter deixado! Foi como testar a teoria das probabilidades fumando um cigarro sentado encima de um jerricam a vazar combustível. Assim começou o dia, assim estava eu.
E heis que por entre tamanha nuvem negra a cuspir raios de energia negativa, mesmo à distância de meia Europa, paciente, carinhosa e abnegadamente me resgatáste para uma viagem especial, espacial. Lenta mas segura, descobriste o caminho de me levar contigo para porto seguro, para o planeta encantado, que é o teu.
Quando, mais tarde no dia, ingenuamente te pedi, que um dia me levasses contigo numa dessas tuas fugas espaciais, já tu me tinhas andado durante horas a passear de mão dada, a apresentar toda a beleza desse mundo, que é tão teu. Só quando adormeci tomei consciência de onde estava, que o que via e ouvia era resultado de uma viagem de sonho. Muito querida e esperada, mas que me ofereceste realmente quando mais precisava dela, inesperadamente. E hoje ao acordar senti-me sorrir.
Recordei o dia de ontem, e a partir dele quase toda uma vida. Recordei os dias amargos em que nada fazia sentido, em que nem sequer se procurava um sentido, por falta de forças e convicções. Recordei os dias tristes passados em tristes companhias, com os sentidos embriagados pela facilidade do prazer. Recordei a falta de consciência com que encarava essa triste forma de vida e como ela era um fim em si mesma. Recordei o quanto me transformei numa triste personagem que se alimentava de uma imagem que criara para consumo externo e que chorava por falta de essência a cada noite em que decidia ter que dormir.
Revivi a noite em que Deus (sim porque eu acredito Nele, e hoje ainda mais, porque sei o quanto é meu amigo) colocou à minha frente a possibilidade de reabraçar a essência esquecida. Revivi esse abraço que te dei. Revivi os dias que se seguiram e em que voltei a ter motivações e convicções. Em que, a custo, consegui voltar a fazer funcionar os "Ticos e Tecos" hibernados e quase moribundos. Revivi as noites com sono, mas que não dormia, para conseguir entender o que de tão especial estava a sentir, e que me fazia querer alguém mais que alguma vez me tinha querido a mim mesmo. Revivi o gosto único, inexplicável e inesquecível de um beijo que, não tenho dúvidas, me recolocou no lado certo da vida.
Passei em revista as horas e dias de momentos tão especiais, vividos com a intensidade de uma vida. Com vontades e receios que desconhecia ou tinha esquecidos, abandonados numa qualquer cratera do meu triste subconsciente. Voltei a ouvir as frases que me deram ânimo para seguir o novo caminho. Revi os gestos carinhosos e a busca a medo, mas confiante, que fizeste de ti e de mim.
Reli o "medo assustado" e todas as outras pérolas que fomos capazes de escrever, para nos provocar, para nos conhecermos, para nos testármos, para criarmos consciência. Voltei a travar conhecimento com planetas e sapos perdidos, que no momento me assustaram mas deram ganas de insistir, perseverar, ir mais fundo. Voltei a olhar a Lua de perto e a cantá-la por a saber "sempre lá, mesmo que não a visse". Confrontei-me novamente com os teus desabafos "a fundo negro", que quantas e quantas vezes me espicaçaram a alma e o querer, que me guiaram por um mundo que desconhecia e que passei a querer também meu.
Olhei para mim e vi que tinha renascido. Olhei para ti e para o teu cachecol às riscas arco-íris e percebi porquê. Percebi o porquê de todos os dias ter vontade de entrar nesse teu mundo, mesmo que como "intruso", a vontade de fazer com que não me expulssásses e gostásses da companhia. Percebi porque a Lua terá sempre um trovador atento e companheiro. Percebi porque os poetas cantam, gritam, sussurram palavras que antes não entendia e agora lamento não ter sido eu o primeiro a escrevê-las para ti.
Agradeci todas as noites em que assisti às tuas lutas por me fazeres mais feliz. Noites que custavam a passar, mas que tive o grande previlégio de ser o objectivo e o objecto. Agradeci todas as conquistas a dois. Todas as conversas intermináveis que nos oferecemos e nos fizeram crescer mais que anos de tertúlias. Agradeci aos construtores que plantaram tantos parques de estacionamento nas nossas cidades. Agradeci a capacidade de me emocionar e chorar. Agradeci ter conseguido "estar lá" sempre que que os teus silêncios pediam ajuda. Agradeci pela "melhor praia do mundo", pelos momentos em que o "palhacito" se soltou e arrancou as gargalhadas que hoje animam a minha ausência.
Que manhã bonita a de hoje! Que sensação a de acordar contigo, mesmo contigo tão longe. Que bom foi ouvir o teu "Bom dia Amor" e ficar deitado a ver tudo isto a acontecer à minha frente.
Aprendi que sempre que viajavas a Marte ias à procura da paz e compreensão que não encontravas a teu lado. Procuravas um lado da vida (de uma vida qualquer) mais fácil e bonito que sabias merecer e te era tão díficil de viver no meio de tanta complicação e dificuldade. Percebi que as viagens pararam quando sentiste não haver mais necessidade de procurar tão longe. Percebi que partiste imediatamente para lá, quando me sentiste em perigo e que me quizeste pôr a salvo.
Valeu a pena o sofrimento de ontem. Valeu a pena a errância de tantos anos. E vai valer a pena teres aberto a porta do teu mundo e da tua vida a este ser, que ontem entendeu finalmente, quando se viu no espaço, que te ama muito, mas não mais que o tanto que tu me amas.
E assim, estou hoje de convicção renovada, que o caminho percorrido nestes últimos 14 meses (curioso como as datas, sem querer se repetem), é imparável. e que depois desta visita a Marte, a próxima estação, seja ela onde fôr, estará muito próxima e será a dois.

Para ti Lua, com todo o meu Amor.

sábado, 21 de junho de 2008

Que o tempo passe!

Hoje é daqueles dias em que não deveria escrever, em que não deveria falar. Pois não consigo passar nada de bom ou inspirador. E é importante sermos inspiradores, fazermos passar boas vibrações, bons sentimentos. E certamente hoje não o conseguirei fazer. Mas arrisco a escrever, mais que não seja para ocupar o tempo com algo que me estimule as capacidades mentais. Mais que não seja para me manter lúcido. É que o tempo não passa. É que estou preso. E magoa estar preso e sentir tanto o peso do tempo parado, sem encontrar motivos para tal pena, para tal condenação.
Mas assim acontece. Para além do peso normal que a distância e ausência têm em mim e na minha vida, hoje está aumentado pela sensação de prisão, de injustiça, de carência mental, física e também material. Hoje nada tem sentido. Nem sequer o querer encontrar sentido. Chorar já não acalma. Dormir não descansa. Lêr não distrai. Pensar atormenta. A única coisa que me conforta é manter-me em contacto. Saber que estás aí. Que me lês. Que me sentes. Que me amas.
Uma vez mais, és a minha âncora, o meu refúgio, o meu escape. A voz amiga que me faz falta. A luz que me mantém fora do escuro.
Mas uma vez mais, descarrego em ti todo o peso que sinto. E isso também não é justo. Mas como posso eu evitar. Queria ser mais forte, mas as forças por vezes fogem-me.
Desculpa Amor. Obrigado Amor.

E pronto, não escrevo mais hoje. Prometo. E assim passou mais um pedaço de tempo. Que é tudo o que quero. Que o tempo simplesmente passe.

Fiquem bem, à Luz da Lua.

terça-feira, 10 de junho de 2008

Complexo, eu? É simples!

Dizem que sou pessoa de muitas palavras, de muitos gestos, de muitas vontades. Que exagero nas demonstrações e nos alheamentos. Que sufoco, sugo, pontapeio, destruo, entronizo, venero e defendo. Em momentos consecutivos e até no mesmo momento. Pode ter sido que sim. Pode ser que assim seja.
Mas tu conheces-me. Sabes que no meio dessa complexidade, sou de grande simplicidade. A simplicidade que vem de apenas não querer passar ao lado da Vida. Seja isso o que fôr.
Hoje, é poder esmagar Andes de saudades. Sentir junto a mim o peito que se cobre com o cachecol arco-íris que já vejo até em campanha pela América. Hoje, é simplesmente que chegue amanhã.
Pessoas fortes, personalidades fortes, sentimentos fortes. Mas, no fundo, tudo tão simples. E que tão simples que é. Amo-te. Quero-te. E amanhã vou poder, simplesmente, dar-te a mão e fazer sentir tudo isso. Mas hoje, antes de dormir, o meu histerismo faz-me escrevê-lo. Assim simples, como sei que o lês.

Até amanhã, Amor. Fiquem bem, à luz da Lua.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Melancolia

Hoje, volto aos poetas. Aqueles tais, onde por vezes, vamos tentar encontrar as razões e as explicações para coisas que sentimos, sem explicação, vindas do nada, para onde acredito que voltarão. E os poetas, os tais, nada nos explicam, apenas nos reconfortam, por sabermos que antes de nós, houve quem já também tivesse sentido e procurado explicação. Não conheço em pormenor a história pessoal destes poetas que hoje trago à luz da Lua, mas do que sei, acredito que os registos que lhes trago são apenas parte de momentos de introspecção lúcida e embriagada, partes de vidas cheias, que deixaram saudades. Também eu acredito que tudo é uma parte de um todo, que quero cheia e intensa. Mas hoje senti a tal necessidade de, pelo menos, perguntar porquê aos poetas.

Melancolia
Maneira romântica de ficar triste

(Mário Quintana)

Nem tudo é fácil

É difícil fazer alguém feliz, assim como é fácil fazer triste.
É difícil dizer eu te amo, assim como é fácil não dizer nada.
É difícil valorizar um amor, assim como é fácil perdê-lo para sempre.
É difícil agradecer pelo dia de hoje, assim como é fácil viver mais um dia.
É difícil enxergar o que a vida traz de bom, assim como é fácil fechar os olhos e atravessar a rua. É difícil se convencer de que se é feliz, assim como é fácil achar que sempre falta algo.
É difícil fazer alguém sorrir, assim como é fácil fazer chorar.
É difícil colocar-se no lugar de alguém, assim como é fácil olhar para o próprio umbigo.
Se você errou, peça desculpas...
É difícil pedir perdão? Mas quem disse que é fácil ser perdoado?
Se alguém errou com você, perdoa-o...
É difícil perdoar? Mas quem disse que é fácil se arrepender?
Se você sente algo, diga...
É difícil se abrir? Mas quem disse que é fácil encontrar alguém que queira escutar?
Se alguém reclama de você, ouça...
É difícil ouvir certas coisas? Mas quem disse que é fácil ouvir você?
Se alguém te ama, ame-o...
É difícil entregar-se? Mas quem disse que é fácil ser feliz?
Nem tudo é fácil na vida... Mas, com certeza, nada é impossível
Precisamos acreditar, ter fé e lutar para que não apenas sonhemos,
Mas também tornemos todos esses desejos, realidade!!!

(Cecília Meireles)

Ai de quem ama

Quanta tristeza
Há nesta vida
Só incerteza
Só despedida

Amar é triste
O que é que existe?
O amor

Ama, canta
Sofre tanta
Tanta saudade
Do seu carinho
Quanta saudade

Amar sozinho
Ai de quem ama
Vive dizendo
Adeus, adeus

(Vinícius de Morais)

E Quarta-Feira certamente este momento é passado enterrado. Há uma luz que me vai fazer sorrir na sua presença. E ajudar a viver Futuro. Feliz.
Fiquem bem, à luz da Lua